quinta-feira, 30 de março de 2017

em cada rua que atrevessei sozinha
deixei um pouquinho de mim
e peguei um pouquinho do  vento
que balançava meu cabelo
na direção exata não sei do que
aliás, eu nunca sei, eu sei
mas na dança da vida, me explica
o que é que você chamaria de saber?
eu observei tudo atentamente
da janela onde estava sentada
vi as paisagens se transformando
num ciclo infinito
que me traz esperança e me deixa
transtornada

terça-feira, 28 de março de 2017

acabei indo pelos lados mais uma vez
desviei os passos despercebidamente
junto com o olhar pra não cruzar
com os mistérios que já absorvem
todos os pensamentos espontâneos
que vieram na minha mente no exato
dia de hoje. Não que eu me lembre
de mais de meia duzia, nem que algum
tenha uma utilidade qualquer.
Indo pelas beiradas a gente tá
sempre quase caindo no precipício
se equilibrando em cada passo
contraindo o abdômen pro vento não
levar o corpo com a força da gravidade
a vista é linda, todos deviam vê-la
(sorriso)
aterrorizadora, aterrorizante, aterrorizada
lá em cima, no alto de cada verso..

Com asas as coisas seriam mais fáceis
foi a única conclusão que cheguei
bem, pelo menos já é um começo.

segunda-feira, 27 de março de 2017

andando só
desatando cada nó
enganchado na sinapse
naquele momento de ápice
quando os atómos
parecem por pouquíssimos
s e g u n d o s
estarem encaixados
nos fatos atos dados
dezenove significados
e num piscar de olhos
tudo volta ao normal
igualzinho ao carnaval

sábado, 25 de março de 2017

queria ser a gota
que caiu na janela
do seu quarto
e ficou olhando
você dormir
a noite toda

sexta-feira, 24 de março de 2017

Vou juntar os cacarecos que existem em mim
e fazer uma exposição de quinquilharias
várias tralhas enfileiradas
umas bugigangas penduradas
tudo embalado pelo treco que me dá
todacadavez que penso em você.

/
Eu queria sumir
d e s a p a r e c e r
como aquelas cinzas do cigarro
que voaram pela janela do carro
em alta velocidade
Eu queria escapar
por qualquer válvula meio enferrujada
do meu próprio corpo
sem o cheiro de enxofre
e virar fogo ou explosão
Eu queria correr
a exatamente 299 792 458 m/s
pra só ter que carregar
o peso da minha energia
e mais nada
Eu queria dançar
feito a luz cinza
de um dia chuvoso
passando pelas entranhas
das nuvens
Eu queria gritar
como uma água viva
esquecida na areia
quando a maré secou
Eu queria arrancar
todos os espinhos
do pé do mundo
pra ver se ele deixa
de ser tão imundo
Eu queria mergulhar
numa bolha de sabão
ou numa cratera de vulcão
esperando o tempo certo
pra estourar
Eu queria suspender
a rotação da terra
pra não ficar enjoada
girando a 465 m/s
ininterruptamente
Eu queria entender
alguma coisa que fizesse sentido
ou algum sentido para as coisas
pra não ter que me equilibrar
na corda bamba do caos sempre
Eu queria expressar
todas as possibilidades
de sinapses que não aconteceram
por causa da sobriedade
em rimas inéditas
Eu queria não querer
e ficar livre das amarras
da minha vontade
de nem sei o que.

Eu fiquei bêbada
só pra conseguir vomitar
em forma de poesias
as palavras que estava
carregando comigo há dias
em forma de choro
oito xícaras transparentes
se despedaçaram no piso do meu quarto
em cada pedaço de vidro quebrado        
eu me vi refletida, em cacos
foi inútil a tentativa
de colar os fragmentos
as lascas, assombrosamente afiadas
rasgavam a camada superficial
deixando vazar um fluxo
vermelho, denso e caótico
impossível de controlar
que brotava das minhas próprias entranhas
e sentia prazer em me afogar
querida
no arco íris
da vida
você
me faz pensar
na minha cor
preferida
você revirou as coisas aqui dentro
inconsequentemente e de um jeito meio
torto, torcendo cada pedaço da
obra que nunca chegamos a teminar
restou tudo que não existe mais
no escuro de um novo tempo
entre as cinzas do que está dado
entre o cheiro de esperança do que ainda não aconteceu
eu pego meu corpo e voou
sem saber direito onde vou pousar
depois de tanto observar e não chegar
a conclusão nenhuma
porque os passos na areia se apagam rápido demais
e pra seguir as pegadas tem que estar atenta
mas tenta, vai, se joga
vamos nessa varrendo o lixo que deixaram no caminho
e se por um acaso eu encontrar um ninho
voou pra longe
porque os emaranhados são as costuras mais lindas
que as curvas da vida tem pra oferecer
mas eu tô naquela idade
que a gente pensa que é dona da cidade
e colocar o pé na embreagem só serve
pra amortecer o impacto do pacto
que eu fiz comigo mesma
de falar o que eu sinto
sem deixar nenhum cinto
me transformar numa forma que não sou
eu voou
Pontos são
pegadas que
na areia
da praia
se cruzam
sem perceber
no camminho
em espiral
que o tempo
leva e traz
Tudo interligado
como os semáforos
da cidade
Várias realidades
paralelas
todas elas
juntas num laço
como o abraço
que você me deu
num domingo
que nem esse
mas totalmente
diferente
Versões
de mim
m e s m a
que ainda nem cheguei a conhecer
e tantas outras
que já esqueci
se balançam
no vento
que passou
pelo seu cabelo
e trouxe cheiro
de tangerina
Porque as linhas
estão todas
emaranhadas
como meus fones
de ouvido
Mantendo o sentido
da irracionalidade
vou por toda parte
à procura Não sei do que
arrisco até chegar em marte
passando pela Lua
nua
a me surpreender
me balancei
nos seus cachos
e me perdi
no tempo
que voa
como areia
na praia
onde
deixamos pegadas
que o mar lambeu
e achou 1/4 doce
apesar de todo
sal ou sol
que você pôs
na comida
Eu me afundei
no mar de poesia
que é essa cidade
enfrentando a realidade
olhei pro lado
e me deparei
tinha tudo pra dar errado
mas eu suspirei
um suspiro
um sorriso
e a gente lembra
no meio da lombra
que abrir os braços
e abraçar o espaço
dando um laço no
 d e s c o n h e c i d o
tem um gosto cítrico
quase da mesma cor
da dor
de querer chorar
e não conseguir
a não ser que seja
depois de 1 ou 52 cervejas
debaixo do chuveiro
se entregando por inteiro
pra correnteza
e toda sua beleza