sexta-feira, 24 de março de 2017

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Eu queria sumir
d e s a p a r e c e r
como aquelas cinzas do cigarro
que voaram pela janela do carro
em alta velocidade
Eu queria escapar
por qualquer válvula meio enferrujada
do meu próprio corpo
sem o cheiro de enxofre
e virar fogo ou explosão
Eu queria correr
a exatamente 299 792 458 m/s
pra só ter que carregar
o peso da minha energia
e mais nada
Eu queria dançar
feito a luz cinza
de um dia chuvoso
passando pelas entranhas
das nuvens
Eu queria gritar
como uma água viva
esquecida na areia
quando a maré secou
Eu queria arrancar
todos os espinhos
do pé do mundo
pra ver se ele deixa
de ser tão imundo
Eu queria mergulhar
numa bolha de sabão
ou numa cratera de vulcão
esperando o tempo certo
pra estourar
Eu queria suspender
a rotação da terra
pra não ficar enjoada
girando a 465 m/s
ininterruptamente
Eu queria entender
alguma coisa que fizesse sentido
ou algum sentido para as coisas
pra não ter que me equilibrar
na corda bamba do caos sempre
Eu queria expressar
todas as possibilidades
de sinapses que não aconteceram
por causa da sobriedade
em rimas inéditas
Eu queria não querer
e ficar livre das amarras
da minha vontade
de nem sei o que.

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